VIVA ENÉLIO
Odúlio Botelho
O escritor Enélio de Lima Petrovich sempre foi uma das pilastras da cultura e da memória potiguar. Culto, dinâmico, amante maior das letras e das artes, pousa na galeria dos que mais produziram em prol da cultura como um todo, aí incluídas todas as manifestações intelectuais, tanto no quadro chamado erudito, bem assim, um grande incentivador dos impulsos artísticos populares, a exemplo do Mestre Câmara Cascudo . E desenvolvia esse incomensurável trabalho com amor, satisfação e alegria, fazendo abrigar no IHGRN aqueles que, ao seu olho clínico, mereciam compor a Casa da Memória, por ele conduzida com arrojo, entusiasmo e dedicação digna de registro a nível nacional. Enélio vai fazer muita falta a todos nós, seus discípulos e admiradores . Fará falta também a cultura brasileira, pois que ele sabia se corresponder como as instituições culturais do País e, porque não dizer, de outras nações.
Para ele, o saber não tinha fronteiras . Viva Enélio .
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ENÉLIO PETROVICH
Jurandyr Navarro (*)
A comunidade intelectual do Rio Grande do Norte muito sentiu com o falecimento de Enélio Lima Petrovich, ocorrido precisamente há um mês. Dotado de um exaltado entusiasmo pelas coisas do pensamento, a sua mente diligente, ocupou, por longo tempo, espaços na advocacia, primeiramente, especializado que era, no Direito Previdenciário. Nesse círculo operativo funcionou a sua atividade causídica por muitos anos.
Ao lado da sua profissão, iniciou-se nos meandros culturais da sociedade norte-rio-grandense, ingressando nos quadros do Instituto Histórico e Geográfico do RN e depois, na Academia Norte - Rio - Grandense de Letras. Nessas duas instituições consolidou, a um só tempo, as culturas histórica e literária.
Na "Casa da Memória", tornou-se o seu presidente perpétuo, dirigindo a entidade durante quarenta e oito anos, quatro meses e onze dias, interrompidos somente, com o seu falecimento.
Na Arcádia das Letras, atuou como um dos seus membros mais ativos.
Em ambas, proferiu muitos discursos, panerígicos e necrológicos, tendo destacada atuação, por todos aplaudida.
Diversos os seus escritos insertos nas Revistas de ambas as sociedades culturais.
Os livros, por ele elaborados, não nos deixou órfãos da sua memória.
Ultimamente havia sido escolhido para ocupar uma das cadeiras da ALEJURN (Academia de Letras Jurídicas do RN), cujo patrono era o tio Nestor dos Santos Lima. Pertenceu a outras instituições científicas e literárias, tendo sido sócio-correspondente de estados membros da Federação Brasileira.
Como representante do Instituto Histórico e Geográfico do RN muitas condecorações recebeu pelo profícuo trabalho realizado.
A sua passagem pela Casa da Memória ficará imperecível.
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ENÉLIO PETROVICH -
A LUZ DA RUA DA CONCEIÇÃO
Violante Pimentel
Enar dos Santos Lima casou-se com Célio Petrovich, gerando os filhos Enélio e Maria Célia.
Miriam, que na verdade se chama Maria do Perpétuo Socorro Galvão, era colega e amiga de Maria Célia. O tempo e a amizade os aproximou e terminou se casando com Enélio, para alegria de Enar, que, segundo suas próprias palavras, ganhou mais uma filha.
Enélio, como excelente filho que era, já casado, continuou morando com Enar, que enviuvara. Formaram, então, uma linda família, em visível harmonia, gerando a bela prole: Líriam, Célio e Enélio Filho.
A bondade começa em casa. Enélio era o filho varão de Enar e Célio, e como tal, soube ser o cabeça da família. Após o falecimento do seu pai e posteriormente, seguindo-se a morte de Nestor dos Santos Lima, seu padrinho e tio-avô, Enar, mãe de Enélio, foi convidada para morar com a tia, Idyla Lima, última irmã viva de Nestor dos Santos Lima, que morava com ele. Enar aceitou o convite, sob a condição de levar toda a sua família. Assim, mudaram-se para o sobrado onde morou Nestor dos Santos Lima, na Praça Sete de Setembro, hoje o prédio da Assembléia Legislativa do Rio Grande do Norte, próxima do Instituto Histórico e Geográfico do Rio Grande do Norte.
A coincidência do destino: Nestor dos Santos Lima, em seu Testamento, doou toda a sua biblioteca ao Instituto, o qual, segundo suas próprias palavras, era “a menina dos seus olhos”. Mas, quem tomou a frente para dar cumprimento a essa sua última vontade, foi o seu querido afilhado e sobrinho-neto, que chamava-o de "padrinho-vovô", o já ilustre advogado Enélio Lima Petrovich, que, a partir de então, passou a dedicar-se, de corpo e alma, ao referido Instituto, passando, posteriormente, a assumir a Presidência. Esse laço de sangue entre Nestor dos Santos Lima, que não deixou filhos, e Enélio Petrovich, gerou excelentes frutos, pois Enélio tornou-se o seu "sucessor" no IHG/RN, com a mesma abnegação, dedicação,e, como o tio, totalmente desprovido de interesses materiais.
Enélio Lima Petrovich, durante toda a sua vida, representou o "cartão de visita" da família, merecendo o nosso respeito e admiração por suas grandes qualidades, tanto em relação à vida familiar, quanto à sua reconhecida intelectualidade.
A luz que iluminou a sua vida não se apagará jamais.
O seu grande desempenho junto ao Instituto Histórico e Geográfico do Rio Grande do Norte jamais será ofuscado.
Encerrando, transcrevo, a citação de Tomas Campbell , feita pelo saudoso Enélio Petrovich, no discurso proferido à beira do túmulo de Luís da Câmara Cascudo, no dia 31.07.86:
"Não é morrer, viver nos corações dos que ficam". Daí a sentença ontológica do velho Ruy: "A morte não extingue, transforma; não aniquila, renova; não divorcia, aproxima."
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SOBRE ENÉLIO LIMA PETROVICH
Carlos Roberto de Miranda Gomes
Tenho o prazer e a honra de dar o meu depoimento sobre a pessoa de ENÉLIO PETROVICH, figura singular da história cultural do nosso Estado.
Nosso conhecimento data dos idos de 1964, quando ingressei na Universidade e escutava a respeito dos seus trabalhos e da sua passagem pela saudosa Faculdade de Direito da Ribeira, como integrante da sua Turma Pioneira, a cinqüentenária “Turma Clóvis Beviláqua” de 1959.
Esse conhecimento, inicialmente, aconteceu através dos seus escritos, que enviava para meu pai, com singela dedicatória. Posteriormente o conheci pessoalmente e desde então passamos a conviver nas lides da vida e dos eventos em nossa sociedade.
Mercê das dedicatórias dos seus livros a papai, fiquei curioso a respeito de sua pessoa e indaguei do meu saudoso genitor a respeito de Enélio, tendo o mesmo respondido tratar-se de um jovem intelectual promissor e dedicado ao Instituto Histórico e Geográfico do Rio Grande do Norte, por quem sempre teve profunda admiração. Tal assertiva, então, passou para mim.
Li a maioria dos seus trabalhos, desde os artigos na Revista Rumos até o último trabalho publicada na Revista do Instituto, lançada no final do ano passado.
Acompanhei a sua trajetória profissional e intelectual, convivendo com ele nas reuniões do Instituto, da Academia de Letras Jurídicas e de outras agremiações culturais, pois ele sempre estava presente em todos os eventos.
Construiu ao logo do tempo um conceito exemplar para a nossa “Casa da Memória”, como costuma assim denominar, ampliando o seu acervo e enriquecendo-a com documentos e objetos de arte, atraindo pensadores eminentes da cultura do País e até de além-mar, imprimindo ao centenário Instituto um lugar de permanentes encontros de cultura, granjeando a admiração de todos e a busca permanente para a realização de pesquisas.
Biógrafo, memorialista, escritor, articulista, promotor de eventos culturais, imortal de duas Academias, Enélio é ainda personagem presente em todas as solenidades oficiais, reuniões e encontros intelectuais e sociais, lançamentos, palestras e saraus, contribuindo assim para garantir a presença do Instituto, incentivando aos novos escribas e dando satisfação aos seus contemporâneos.
Com tristeza vimos o seu retorno às Mansões do Criador, onde tenho certeza deverá recebendo o justo prêmio de sua vida nesta dimensão do mundo. Enélio Lima Petrovich é nome para sempre se homenagear.
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ENÉLIO, UM INCENTIVADOR DE TALENTOS...
Ivoncisio Medeiros
Acadêmico de Direito, lia Enélio Lima Petrovich na sua coluna “ A Previdência Social em dia...”, publicada na “Tribuna do Norte”, jornal do previndenciarista Aluísio Alves, com palavras esclarecedoras e orientadoras para aqueles vitimados pelo Estado e pelos patrões. Leitura que muito me serviu, mais tarde, para os meus estudos de Direito Previdenciário. Depois, através da amizade e dos constantes contatos com meu pai, Tarcísio Medeiros, nos preparos para a publicação da Revista do Instituto Histórico e Geográfico do Rio Grande do Norte, admirava a sua abnegação e o seu esforço para vencer as dificuldades enfrentadas para divulgar a produção dos nossos confrades.
Sempre chamou a minha atenção pelo seu temperamento agitado, irrequieto e buliçoso, na qualificação de Veríssimo de Melo. O falar apressado, engolindo sílabas, por vezes palavras, plasmava o alvoroçado planejador e arquiteto da renovação e da dinâmica do Instituto Histórico e Geográfico, do qual é a sua “Coluna Mestra”. Por vezes, ostenta a sisudez do seu “tio-vovô”, Dr. Nestor dos Santos Lima, alicerce da Casa da Memória, que me amedrontava quando criança.
Pessoalmente, tenho muito o que lhe agradecer. Desde a atenção e a estima que me dedicava, em razão de velhos laços familiares, aos incentivos que me proporcionou quando das minhas viagens à Europa, credenciando-me para proceder pesquisas nos arquivos históricos de Portugal e de Espanha, a procura de “velhos papéis” que contassem a história do Rio Grande do Norte. E foi assim que recebi a estreita colaboração dos Diretores e funcionários dessas vetustas (palavra que ele gosta muito de empregar) instituições ibero-lusitanas.
Dessas pesquisas surgiu o meu primeiro livro, “Documentos do Rio Grande do Norte”, por ele prefaciado com entusiasmo, publicado pela Fundação “José Augusto” em 1976, com o seu apoio, e que me abriu as portas do Instituto Histórico e Geográfico do Estado, tornando-me o primeiro bisneto de Vicente de Lemos a ser Sócio Efetivo da Casa por ele arquitetada em 1902. Publicado em 1992, “O Poder Judiciário no Rio Grande do Norte (1818 a 1992)” , pesquisa iniciada na Faculdade de Direito, com Francisco Nogueira Fernandes, recebeu a sua colaboração. Em 2005, o Conselho Editorial do Senado Federal aprovou a publicação do meu “Inventário de Documentos Históricos Brasileiros”, com a recomendação e aval do Instituto, encaminhado por Enélio ao Senador Garibaldi Alves Filho que a endossou e apresentou os originais ao Senador José Sarney, então Presidente do Senado Federal e do seu Conselho Editorial. Com essas publicações, bem como em outras de conteúdo histórico, sempre contei com as suas palavras e as suas atitudes de apoio, incentivo, estímulo e entusiasmo. E eu não sou o único! Os outros que o digam também...
Conivente, Agaciel da Silva Maia, prefaciando “Visão de um Espectador”, coletânea de prefácios e de apresentações assinadas por Enélio, confirma que”efetivamente, com o seu estímulo e encorajamento, podemos ver hoje o aumento de autores nascidos no Rio Grande do Norte, abrangendo áreas como a ciência política, a historiografia, a produção lírica, a memorialística. Ao vermos tantos livros publicados em nosso Estado, encontramos a labuta de Enélio e a certeza de que muitos autores, através desses esforços incansáveis, conseguiram realizar com êxito o anseio de ver um livro publicado.”
Obrigado, Enélio! Pelo que já fez e, preventivamente, pelo que ainda poderá fazer.